Comitê de Edinho continua ocupando imóvel sem autorização da dona

Do UOL

Como era a casa antes e depois de o comitê ser instalado

Como era a casa antes e depois de o comitê ser instalado

O comitê de campanha do senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), que concorre ao governo do Maranhão com o apoio da família Sarney, está envolto em uma trama que mistura superstição e uma batalha judicial pela posse do imóvel.

O imóvel, localizado no bairro Olho d’Água, área nobre de São Luís, foi repassado à campanha pela imobiliária Cantanhêde e Cantanhêde Ltda., dos irmãos Valter e Wemerson Cantanhêde, a título de doação eleitoral. Na prestação de contas de Lobão Filho repassada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a imobiliária estimou a doação, por quatro meses de ocupação do imóvel, em R$ 15 mil.

A operação, entretanto, foi realizada sem a anuência da proprietária do imóvel, a aposentada Lenita Lago Bello, que foi surpreendida quando descobriu que o comitê havia sido montado na sua casa. “Quando vi tinha um comitê na minha casa, fiquei revoltadíssima, perdi noites de sono”, afirmou, em entrevista ao UOL.

Segundo a aposentada, o imóvel de 2.100 metros quadrados foi alugado para a imobiliária em julho de 2011, por R$ 5.000 mensais.

O contrato venceu em 4 de julho deste ano, mas Lenita não quis renová-lo porque, de acordo com ela, os inquilinos acumularam muitos débitos com IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) que hoje superam os R$ 50 mil.

Em vez de lhe devolverem as chaves, diz a proprietária, os inquilinos entregaram a casa para a campanha de Lobão Filho. “Eles simplesmente entraram na minha casa e ficaram”, diz Lenita, que acusa a campanha de descaracterizar o imóvel e até criar peixes na piscina.

“A casa era toda de muro. Depois que montaram o comitê, eles derrubaram todo o muro. A casa está toda devassada, um terror. Quebraram a cozinha, mudaram tudo. Quando entrei lá, tinha até peixe sendo criado na piscina”, afirma.

Ação na Justiça

Em 19 de agosto, a aposentada entrou com uma ação de despejo na 16ª Vara Cível de São Paulo. Dez dias depois, a juíza Alice Prazeres Rodrigues negou o pedido com o argumento de que a lei exige, nestes casos, que os proprietários que pedem a desocupação depositem um valor caução equivalente a três meses de aluguel.

Divulgação

Área interna do comitê

A magistrada ainda intimou a imobiliária a manifestar-se em um prazo de 15 dias. Contrariada, Lenita recorreu ao TJ-MA (Tribunal de Justiça do Maranhão).

Comitê da sorte

Em paralelo, a aposentada diz ter procurado a campanha no início deste mês para tentar chegar a um acordo extrajudicial. “Me disseram que não havia como deixar o imóvel porque a comitê já estava todo instalado”, afirma Lenita. “Me propuseram pagar, antecipadamente, R$ 10 mil por mês, durante quatro meses. Falei que queria alugar por R$ 15 mil, que é o preço do mercado, mas eles se recusaram. Falaram ‘é R$ 10 mil ou nada'”, relata.

O argumento da campanha que mais intrigou Lenita foi o de que o comitê não poderia sair da casa porque o espaço foi escolhido principalmente para dar sorte ao Lobão Filho. Isso porque o mesmo imóvel abrigou os comitês de Jackson Lago (PDT), eleito governador em 2006, e de João Castelo (PSDB), vitorioso na campanha pela Prefeitura de São Luís em 2008. “Eles cismaram que essa casa dava sorte e que o comitê tinha de ser lá.”

Segundo Lenita, o dinheiro prometido pela campanha não foi pago até agora. “Eles sumiram, nunca mais me procuraram.”

 Outro lado

Procurada pela reportagem, a campanha de Lobão Filho diz que o uso do imóvel foi autorizado pela imobiliária desde o início e que a cessão da casa foi feita legalmente. O assessor de campanha do candidato afirmou que há um “acordo sendo costurado entre a imobiliária e proprietária”, mas que não tem detalhes sobre a negociação.

“A relação do comitê é com a imobiliária, que cedeu o imóvel, dentro da legalidade. O acordo negociado entre imobiliária e proprietária deve resolver todos os detalhes que, eventualmente, estejam pendentes”, disse.

A reportagem ligou várias vezes para o celular de Valter Cantanhêde ao longo da última semana, mas ele não atendeu a nenhuma ligação. Wemerson Cantanhêde foi procurado pelo Facebook, mas também não respondeu aoUOL.

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